Podemos solapar sua doutrina da transmigração de um corpo para outro corpo por este fato: as almas não lembram nada de qualquer dos eventos que ocorreram em seus estados anteriores de existência. Se tivessem sido elas originadas com esta característica, que elas devem ter experiência com todo tipo de ação, devem ter retido alguma lembrança das coisas que teriam previamente efetuado, que podem ser preencher o que ainda lhe fosse deficiente; e não por ficarem vagueando, sem interrupção, pelas mesmas buscas, despendendo seu trabalho desgraçadamente em vão.
(…)Com referência a estas objeções, Platão (…) não tentou nenhum tipo de de prova, mas simplesmente respondeu dogmaticamente que, quando as almas entram nesta vida, elas são induzidas a beber do esquecimento pelo (*) demônio que vigia sua entrada, antes que efetivamente entrem nos corpos. Escapou-lhe que ele caiu em outra e maior complicação. Se a taça do esquecimento, após ter sido ingerida, pode apagar a memória de todas as obras que foram feitas, como, ó Platão, tomaste conhecimento desta fato(…)?
(*)no sentido de “gênio”, não se necessariamente de um ser maléfico.
Irineu de Lião
Irineu de Lião (130-202) redigiu em sua obra Adversus haeresis (Contra as heresias) violentas críticas a diversas seitas cristãs de sua época, especialmente aos gnósticos, que se opunham à hierarquização. Até a redescoberta de parte da literatura gnóstica, sua obra foi uma das principais fontes de informações sobre estas seitas. No cap. XXXIII do segundo tomo do livro, dirigiu-se à filosofia platônica: